Translate

Sunday, December 25, 2011

LARIONOV, Mikhail Fiodorovich (1881-1964).

O artista plástico, desenhista, pintor, cenógrafo e figurinista de teatro e cinema, e artista performático, líder das iniciantes vanguadas russas, nasceu em Tiraspol, cidade próxima a Odessa (Bessarábia, Rússia). Larionov naturalizou-se francês (1938-), e morreu em Fontenay-aux-Roses (França). O pai do artista foi médico militar; Larionov foi viver com sua familia em Moscou (1891). Desde cedo, Larionov exerceu a arte da contestação, que custou-lhe a expulsão da escola; mas, a crise foi contornada, Larionov foi readmitido e completou os estudos na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura (Moscou, 1898-), onde conheceu Natália Goncharova (1881-1962). O artista casou-se com Maria-Tomilina Larionova, que ele abandonou para viver na França com Goncharova, com quem casou-se depois que sua primeira esposa faleceu. Larionov estabeleceu com Goncharova parceria artística que durou 50 anos.

Larionov viajou para Paris a convite de Sergey Pavlovich Diaghilev (1872-1929), que começava a organizar as primeiras mostras de arte russa na cidade (1906). Na cidade-luz o artista conheceu a arte do Grupo das Feras [Fauves], e de Paul Gauguin (1848-1903), homenageado com mostra retrospectiva póstuma no Salão dos Artistas Independentes (1906-1907). As obras de Gauguin influenciaram nitidamente as primeiras pinturas de Larionov. Voltando à Moscou, Larionov participou da mostra da associação de artistas, dita, Sociedade de Estética Livre (1907-1909), onde ele expôs a pintura O Copo, obra de influência Cubista.

Larionov organizou grupo de artistas de vanguarda com seu irmão Ivan Larionov (1873-1918), e com os irmãos David Burliuk (1882-1967) e Ivan Burliuk (1886-1917); e Aleksandra Ekster (1882-1949), entre outros. Em conjunto com o grupo, Larionov organizou várias mostras de arte, entre essas a Estefanos I e II [Sthepanhos]; o Salão do Grupo Velo de Ouro, mega-exposição de arte que incluiu amplo panorama da arte das vanguardas internacionais convidadas para participarem de mostras na Rússia. Os três salões de arte do Velo de Ouro foram patrocinados pela revista homônima; as duas primeiras mostras apresentaram obras das vanguardas internacionais, principalmente da francesa, enquanto que a terceira e última mostra somente apresentou obras de artistas russos. Foi deste modo que a nascente arte das vanguardas européias, influenciou a nova arte das vanguardas russas (Moscou, 1907-1910).

Larionov expôs sua conhecida pintura O Boulevard, com influência da obra de Paul Gauguin, que se encontra reproduzida (DJAFAROVA, 1993); e Natália Goncharova também expôs obras na mostra coletiva do Estúdio Kraft (Moscou, 1910). Larionov organizou Mostra Internacional Salão de Vladimir Izdebsky  (Odessa, 1910) e a mostra da associação de artistas União da Juventude (São Petersburgo, 1910).

Mikhail Larionov passou esse verão na companhia do escritor Futurista russo Velemir Khlebenikov (1885-1922), de Aristarkh Lentulov (1882-1943) e David Burliuk, quando ele organizou o grupo revolucionário Valete de Diamantes [Bubnovy Valet]. A primeira mostra, Larionov participou com 25 pinturas. O artista tornou-se amigo de Vladimir Tatlin (1885-1953), de quem pintou o retrato no estilo cubista (1911).
Larionov tornou-se precurssor internacional da Arte do Corpo [Body Art], através do Evento [Happening], quando artistas de seu grupo como Natalia Goncharova, Mikhail Ledentu e Ilia Zdanevich (1894-1975) participaram de passeata pelas ruas de Riga, vestidos com roupas formais, mas com os rostos pintados com símbolos abstratos. Foi assim que os artistas das vanguardas russas compareceram em Moscou a inauguração do cabaré Cachorro Viralata, de Nicolay Kulbin (1868-1917). A fotografia posada dos artistas com os rostos pintados encontra-se publicada (KOVTUN, 1983);  outra fotografia de David Burliuk com o rosto pintado, ao lado de V. Mayakowsky (1893-1930) e do burocrata Ossip Brik (1888-1945), encontra-se reproduzida (POMORSKA, 1972).

Mikhail Larionv foi convocado, e prestou o serviço militar (1910-1911). Na primavera seguinte, Larionov pintou mais de 40 obras figurativas com temas militares e de soldados, nas quais utilizou técnica baseada na arte primitiva. (1912-1913). Nessa época, Larionov, na companhia de N. Goncharova, V. Tatlin, Aleksey Morgunov (1884-1935) e K. Malevich, abandonou o Grupo Valete de Diamantes [Bubnovy Valet], para, fundar outro grupo próprio, o Rabo de Burro [Osliny Kvost]. Larionov apresentou 140 pinturas na mostra com apenas um dia de duração, mas que incluíu debates e palestras (Moscou, 8 dez., 1912). Larionov apresentou o Manifesto Raionista, na mostra coletiva do grupo União da Juventude (São Petersburgo, dez., 1912).

Larionov publicou vários escritos sobre arte, entre outros textos, alguns com co-autoria de Aleksey Kruchenykh (1886-1968)Nicolai Rogovin e Vladimir Tatlin. Obras de Larionov participaram de importantes exposições no exterior como da segunda mostra do Grupo do Cavaleiro Azul [Der Blaue Reiter] (Munique, 1912), organizada pelo artista russo emigrado Wassily Kandinsky (1866-1944). Larionov expôs com o grupo na mostra internacional dita, Salão de Outono alemão, realizada na Galeria da Tempestade [Der Sturm] (Berlim, set., 1913).

Foi Larionov quem organizou a mostra A Diana (Moscou, 1913), em homenagem ao casal Robert Delaunay (1885-1941): Sonia Delaunay Terk (1885-1979) era Ucraniana,  portanto russa, e seu marido francês, casal que Larionov conheceu na primeira temporada parisiense (1906). O poeta e escritor Ilya Zdanevich (1894-1975) escreveu a primeira monografia sobre M. Larionov e N. Goncharova. O casal  produziu e atuou no filme Drama no Cabaré 13 (Moscou, 1913); um fotograma [still] do filme, encontra-se reproduzido (HULTEN, 1986).


O Futurista italiano F. T. Marinetti visitou a Rússia (jan.-fev., 1914), a convite de Nicolay Kulbin (1868-1917). O escritor proferiu palestras no teatro-cabaré Cachorro Vira-lata e ofereceu recepção as vanguardas russas, que compareceram em peso. A fotografia dos  russos, com Marinetti sentado em primeiro plano e Natália Goncharova a seu lado com vestido de gola rendada, Vladimir Tatlin (1885-1953), sentado do lado direito dele, que, no centro da foto fuma charuto; e Larinonov, ladeado por V. Mayakovsky, encontra-se de pé do lado esquerdo da foto publicada (HULTEN, 1986, 498). Larionov associou-se ao grupo  das vanguardas russas, que fizeram violenta oposição à visita do Futurista italiano; o grupo, inclusive, publicou artigos incisivos na imprensa da época.

Larionov organizou outra mostra: a N. 4, Raionistas, Futuristas e Primitivos (1914), na qual valorizou a arte primitiva de raíz folclórica através da participação do pintor primitivo Niko Pirosmani (1862-1918, Armênia). Larionov lançou o Raionismo na exposição N. 4, que vizava o retorno da arte russa as raízes bizantinas e as tradições do país. Na exposição foram apresentadas gravuras antigas impressas na técnica, dita, de Lubok, além de arte religiosa russa. Larionov expôs suas primeiras pinturas no novo estilo dinâmico, dito, Raionista, nas quais obras multicoloridas com nítida influência do Futurismo italiano  quase chegaram à Abstração. Essas pinturas colocaram Larionov entre os precursores da Abstração, nessa fase das pinturas que receberam plena influência do Dinamismo Futurista italiano.  Na época, as obras raionistas do grupo, incluindo as de N. Goncharova e de Mikhail Ledentu (1891-1917), estiveram em várias exposições (São Petersburgo e Moscou, 1912-1914). 

Larionov viajou para Paris com Natalia Goncharova, com quem expôs obras raionistas na mostra conjunta da Galeria Paul Guillaume (jun., 1914). A apresentação no convite foi do crítico de arte e poeta  Guillaume Apollinaire (1880-1918). Obras de Larionov participaram de coletiva nas Galerias Grafton (Londres, 1914). Em seguida Larionov regressou à seu país, que passou a participar da I Guerra Mundial (1 agos., 1914); ele voltou ao exército russo. O artista lutou e foi gravemente ferido na frente de batalha, quando permaneceu vários meses hospitalizado. Nesse período, Larionv foi visitado por Ossip Brik (1888-1945), entre outros: a fotografia da visita encontra-se publicada (KRENS,1992). O artista foi desmobilizado (1915) e, em seguida convidado por seu amigo russo, Sergey Diaghilev, para tornar-se diretor de arte dos Balés Russos, da Companhia Teatral S. P. Diaghilev (Paris, 1909-1929). Larionov abandonou a vida russa e voltou a Paris, onde reuniu-se a Natália Goncharova, com quem posteriormente se casou.

Obras de Larionov continuaram a participar de mostras coletivas internacionais, como na Galeria das Duas Ilhas (Roma, 1917); em Tiflis (hoje Tbilisi capital da Armênia, 1918); na Galeria Tretyakov (Moscou, 1919); na Bienal de Veneza, mostra itinerante (1920, Paris e Londres), entre outras capitais européias.

Como diretor artístico dos Balés Russos, Larionov e Goncharova participaram da criação de cenografias e figurinos para muitas das produções de S. Diaghilev (Paris, 1916-). Nessa companhia os artistas trabalharam durante vários anos, até o final, depois da morte de empresário Diaghilev. Larionov criou a cenografia e figurinos para os balés Contos Russos [Contes Russes] (1917); para O Bufão [Le Chout] (1920), A Raposa [Le Renard] (1922); para Zorro (1922). O artista criou o novo cenário Construtivista para a re-encenação de A Raposa (1929), último balé encenado pela Companhia de Diaghilev, que faleceu nesse ano (Veneza, 1929).

Larionov participou com c. 40 obras na mostra individual na Galeria das Duas Ilhas [Deux Îlles] (Paris, 1948); com obras na importante coletiva Primeiros mestres da arte abstrata, na Galeria Maeght (Paris,  1949); na A Obra do Século XX, no MNAM  (Paris, 1952); na mostra da Galeria do Instituto (Paris, 1956). Na década de 1960, os artistas N. Goncharova e M. Larionov, morreram em relativo ostracismo (Paris, 1962; 1964). A fotografia do artista e de sua obra quase abstrata, Raionismo em vermelho e azul (1911), encontram-se reproduzidas (RAGON, 1992); a pintura Raionismo (1913), encontra-se reproduzida (SEUPHOR, 1957).

A cidade de São Paulo recebeu a mostra 500 anos de Arte Russa, vinda com 350 obras do Museu Russo de São Petersburgo, contando toda a trajetória da arte no país. As vanguardas russas foram brindadas com pequena mostra de obras, na seção da exposição inaugurada na Oca do Parque do Ibirapuera (São Paulo, jun., 2002). A obra Vênus (1912) de M. Larionov, esteve em exposição e sua foto foi publicada (Caderno B, do JB - Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 9 jun., 2002).    

REFERÊNCIAS:

ARGAN, G. C.; VINCA-MASSINI, L. (Biogr.). Arte Moderna. Tradução de Denise Bottman e Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 709p., p. 669.       

CATÁLOGO. PETROVA, Y.; KIBLITSKY, J.;RODRÍGUEZ, A.; ATHAYDE, R. de; COCHIARALLE, F. Virada Russa: a Vanguarda na Coleção do Museu Russo de São Petersburgo. Tradução de Elena Vassina, Alexander Borodin, Joseph Kiblitsky.  São Paulo: set. - nov. 2009. 226p.: il., color., 25.5 x 32.5 cm, pp. 60-61, 64-67.

CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L; CAUMONT, J; CELANT, G; COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE MARIA, L.; DI MILLIA, G.; FABRIS, A.; FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.; GREGOTTI, V.; LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.; MENNA, F.; ÁCINI, P.; RONDOLINO, G; RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.; SILK, G.; SMEJKAI, F.; STRADA, V.; VERDONE, M.; ZADORA, S. Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., pp. 498, 500-502.

CATÁLOGO. LODDER, C. El arte de vanguardia en Russia: experimento e innovación. Apud KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C.. La Vanguardia Rusa, 1905-1925, en Las colecciones de los Museos Rusos. Madrid: Fundación Central Hispano, Fondación ELF, 1993. 295p.: il., color.

CATÁLOGO. GASSNER, H. The Constructivists: Modernism on the way of Modernization. Translated by Jurgen Riehle. In CELANT, G. (org,). GIMENEZ, C. (org.). KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C. The Great Utopia. The Russian and Soviet Avant-Garde 1915-1932. Frankfurt: Schirn Kunsthalle. Amsterdã: Stedelijk Museum. New York: New York: the Solomon Guggenheim Museum, 1992. 732 p.: il.

CATÁLOGO. KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C.;.WEBER, J. The Great Utopia: The Russian and Soviet Avant-Garde, 1915-1932. Shirn Kunsthalle, Frankfurt: 01-10May, 12992. Stedelijk Museum, Amsterdam; Salomon R. Guggenheim Museum, New York. New York: Salomon R. Guggenheim Museum, Rizzoli, 1992, 732 p.: il.

CATÁLOGO. KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C. La Vanguardia Rusa, 1905-1925 en Las colecciones de los Museos Rusos. Madrid: Fundación Central Hispano, Fondación ELF, 1993. 295p.: il., color., pp. 27-32, 40-44.

CATÁLOGO. LODDER, C., MILNER, J.; DJAFAROVA, S. (Biogr.). La Vanguardia Rusa, 1905-1925, en las colecciones de los Museos Rusos Apud KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C.. La Vanguardia Rusa, 1905-1925, en Las colecciones de los Museos Rusos. Madrid: Fundación Central Hispano, Fondación ELF, 1993. 295p.: il., color.

CATÁLOGO. LODDER, C. The Transition to Constructivism. Apud KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C. The Great Utopia. The Russian and Soviet Avant-Garde 1915-1932. Frankfurt: Schirn Kunsthalle. Amsterdam: Stedelijk Museum. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, 1992.

CATÁLOGO. MILNER, J. Arte, Guerra y Revolucion. Apud La Vanguardia Rusa, 1905-1925, en las colecciones de los Museos Rusos. Madrid: Fundación Central Hispano, Fondación ELF, 1993. 295p.: il., color.


DICIONÁRIO. MAILLARD, R. (org.). AHSBERY, J.; BIRD, A.; COGNIAT, R.; COURTHION, P.; DORIVAL, B.; ELGAR, F.; FELS, F.; FORMAGGIO, D.; GIEURE, M.; GREY, M.; LASSAIGNE, J.; LÉJARD, A.; LEYMARIE, J.; LINDWALL, B.; LIVENGOOD, E.; MELLQUIST, J.; McEWEN, F.; MEYER, F.; MIDDLETON, M.; MOULIN, R-J.; MULLER, J. É.; POMÈS, M.; RAPSILBER, E. RAYNAL, M.; REWALD, J.; ROCHÉ, H-P.; ROGER-MARX, C.; RONART, D.; SAN LAZARO, G.; SEUPHOR, M.; SOUPAULT, P.; SPAAK,  C.; WADIA, B. Dicionário da Pintura Moderna. Tradução de Jacy Monteiro. São Paulo: Hemus, 1981,  p. 183.   

DICIONÁRIO. SEUPHOR, M. Dictionaire de la peinture abstraite: precédé d´une histoire de la peinture. Paris: Fernand Hazam, 1957. 305p.: il., pp. 33, 206.

KOVTUN, Y Mikhail Larionov 1881–1963. Cronicle of the artist's life and work. Translated by Paul Williams. Bournemouth: Parkstone Press, 1998. 175p.: il., retrs. (Great Painters).

POMORSKA, K. Formalismo e Futurismo: a teoria formalista russa e seu ambiente político. Tradução de Sebastião Uchôa Leite. São Paulo: Perspectiva, 1972. 173p.: il. (Coleção Debates Perspectiva, v. 60).

RAGON, M..Journal de l´Art Abstrait. Genève: Skira, 1992. 163p: il., p. 16.



No comments: