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Sunday, December 25, 2011

MALEVICH, Kazimir Severinovich (1878-1935).


MALEVICH, Kazimir Severinovich (1878-1935).


O artista nasceu em Kiev e faleceu em Leningrado (Ucrânia - Rússia - URSS). Malevich foi filho de familia proletária: seu pai foi trabalhador rural em usina de açúcar. Malevich passou sua infância no campo e estudou no Liceu Agrícola. O artista foi viver com sua família em Lursk, quando estudou na Escola de Desenho de Kiev; ele depois se formou na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura (Moscou, 1904-1910). Na cidade, o artista frequentou o estúdio do pintor F. I. Rerberg. e iniciou sua participação nas artes russas apresentando pinturas em diversas mostras das vanguardas, como a da Associação de Artistas de Moscou (1907).


A revista Velo de Ouro, promoveu duas mega-exposições internacionais, o Salão do Velo de Ouro (1908; 1909); e a mostra somente nacional, a última (1910). As duas primeiras exposições trouxeram à Russia obras de destacados artistas das vanguardas francesas, entre essas pinturas de Robert Delaunay (1885-1941) e de Émile Bernard (1861-1941). Nessa ocasião, Malevich descobriu a arte das vanguardas francesas, que influenciaram suas obras na primeira década do século, quando o artista pintou telas como Alta Sociedade (1908), com nítida influência da pintura do francês Bernard. O original dessa pintura de Malevich esteve presente na mostra 500 Anos de Arte Russa, apresentada na Oca do Parque do Ibirapuera (São Paulo, 2002).

 
Malevich participou do Salão de Moscou, organizado pela associação de artistas União da Juventude [Soyoz Molodhezi], que promoveu mostras do grupo liderado por Olga Rozanova (1886-1918), no outro polo ativo das vanguardas russas, São Petersburgo (1911-). Malevich foi convidado por Mikhail Larionov (1881-1964), líder das vanguardas russas, quando ele participou do novo grupo, dito, Valete de Diamantes [Bubnovy Valet] (1912-1913). Larionov deixou esse primeiro grupo que fundou anteriormente para lançar seu movimento de arte quase abstrata, com marcante influência do Futurismo italiano, através do novo grupo que ele organizou, ao qual deu o nome de Rabo de Burro [Osliny Kvost]. Larionov obteve a participação de Natália Goncharova (1881-1962), Vladimir Tatlin (1885-1953), Mikhail Ledentu (1891-1917) e Kazimir Malevich, entre outros artistas. Esse grupo  Rabo de Burro organizou várias mostras importantes, das quais Malevich participou, como A Diana e a N. 4, Raionistas, Futuristas e Primitivos (1912). Na última mostra, Larionov e Ilya Zdanevich (1894-1975), resgataram a obra do pintor primitivo armênio Niko Pirosmani (1862-1918), de Tiflis (hoje Tbilisi, capital da Armênia, que não participava do território russo até ser anexada em 1920).


Malevich tornou-se amigo de Mikhail Matiushin (1861-1934), músico da côrte do Czar em São Petersburgo, posteriormente importante pintor e teórico da arte das vanguardas russas. Na companhia de Velimir Khlebenikov (1885-1922) e Alexey Kruchenykh (1886-1968), o artista passou o verão na Dacha de Matiushin. Essa temporada recebeu o nome de I Congresso Pan-Russo dos Bardos do Futuro: Poetas Futuristas (1913). Dessa época sobreviveram algumas fotografias do grupo com Matiushin, Malevich e Kruchenykh. Os artistas reunidos compuseram a ópera Vitória sob o Sol [Polbeda nad solncem] (1913), posteriormente encenada sob direção de Kruchenykh, com prólogo de Khlebenikov, libreto de Kruchenykh, música de M. V. Matiushin e cenários e figurinos Cubo-Futuristas de K. Malevich. Os artistas conseguiram o patrocínio da associação de artistas União da Juventude e encenaram a ópera em récita única no Teatro Luna Park da Ópera Cômica (São Petersburgo, 5 dez., 1913). O evento fracassou porque faltou profissionalismo, verba para a contratação de cantores líricos profissionais. A ópera foi cantada por amadores, recrutados entre estudantes de música, o que provocou a mais completa revolta do público russo, que vaiou o espetáculo aos gritos de - Abaixo os Futuristas!



Kazimir Malevich retirou-se do União da Juventude, juntamente com Vladimir Tatlin (1885-1953). Malevich participou com obras Cubo-Futuristas da  segunda mostra do Grupo Internacional do Cavaleiro Azul.  A exposicão foi inaugurada na Galeria Hans Goltz (Munique, mar., 1912). Participaram obras dos russos Wassily Kandinsky (1866-1944), Mikhail Larionov (1880-1964) e Natália Goncharova (1881-1962), entre outros artistas estangeiros, como Pablo Picasso (1881-1973). Pinturas Cubo-Futuristas de  Malevich participaram do Salão dos Artistas Independentes (Paris, 1914).

 
Malevich trabalhou na Editora Lubok de Hoje (1914), juntamente com Vladimir Mayakovsky (1893-1930). Malevich tornou-se o principal desenhista da empresa, quando Mayakovsky tornou-se o mais conhecido escritor dos textos dos cartazes publicitários da mesma editora. A criativa dupla criou centenas de cartazes, na maioria impressos na técnica de Lubok: alguns cartazes da época, mostrando desenhos de Malevich associados ao texto de Mayakowsky, estiveram com seus originais em exposição na mostra Gráfica Utópica, Arte Gráfica Russa, 1904-1942, no CCBB e se encontram reproduzidos no catálogo (Rio de Janeiro, 2002).

 
Durante dois anos Malevich permaneceu isolado no seu estúdio, quando dedicou-se integralmente à pesquisa de sua Abstração Geométrica, dita, Não Objetiva (1912-1914). O artista tornou-se recluso, mantendo em sigilo as obras inovadoras que pintou, ditas Suprematistas. Malevich foi convidado por Nicolay Nicolaevich Punin (1888-1953), para expôr suas obras; o mesmo artista foi quem organizou anteriormente a mostra Bonde V (1915), sendo o único amigo que viu as pinturas Suprematistas no ateliê de Malevich. As pinturas foram lançadas na mostra 0:10, Última Exposição Futurista, organizada por Ivan Puni (São Petersburgo, 1915). Nessa mostra Malevich apresentou sua série de 39 pinturas pioneiras da Abstração Geométrica, do movimento que o artista denominou de Suprematismo o Novo Realismo Pictórico. As fotografias originais desta mostra se encontram publicadas (KRENS, 1991).

 
Malevich tornou-se, da noite para o dia, o precurssor da Abstração Geométrica, e expôs, entre sua obras mais importantes o Quadrado Negro sobre Fundo Branco (1915). Foi ainda nessa mostra que se acentuou a rivalidade artística entre Malevich e Tatlin, ambos disputando a supremacia da liderança das vanguardas russas, depois que o mais destacado artista, Larionov, deixou definitivamente o país (1916-). Na citada mostra, da qual várias obras de Tatlin participaram, as obras de ambos ocuparam salas separadas. Malevich tornou-se o novo líder das vanguardas russas pelo período de poucos anos; o artista lançou o Manifesto do Suprematismo (Petrogrado, 1915). E Malevich organizou o Grupo Supremus, voltado para a divulgação da nova estética na arte abstrata que ele promovia. Participaram do grupo Aleksandra Ekster (1882-1949), Mikhail Menkov (1885-1921), Vera Pestel (1887-1952), Lyubov Popova (1889-1924), Ivan Puni (1894-1956),
 Olga Rozanova (1886-1918) e Nadeshda Udaltsova (1885-1961), entre outros artistas. Malevich apresentou suas obras na mostra O Armazém, organizada por V. Tatlin; e, logo depois, o artista viajou para Smolenski, convocado para servir ao exército russo durante o conflito da Primeira Guerra Mundial, o que interrompeu as atividades do Grupo Supremus, de vida curta (c.1916-1919).

Logo depois do término da Primeira Guerra Mundial, Malevich iniciou a publicação de sua extensa obra teórica; desde o lançamento do Suprematismo, o artista passou a publicar alguns artigos nas revistas das vanguardas russas, como Anarkhia (Moscou, 1915). Depois da Revolução Russa, Malevich, artista de origens proletárias encontrou caminhos abertos para sua ativa participação nas organizações estatais, que passaram a dominar toda a arte soviética. As grandes coleções particulares de arte foram estatizadas (1918) e toda a administração e organização das mostras de arte passaram para o controle estatal, através de recém-criadas organizações, como a IZO NARKOMPRÓS (Moscou).

Malevich tornou-se membro da IZO NARKOMPRÓS (1918), quando foi colega de Nadeshda Udaltsova (1885-1961). O arquiteto depois participou da direção do Ateliê Têxtil nas SVOMAS. Malevich expôs 16 obras Suprematistas na X Exposição Estatal: ele pintou a composição Branco sobre Branco (1919), hoje no acervo do MoMA - Museu de Arte Moderna (Nova York). No mesmo ano Malevich terminou de escrever sua primeira obra teórica Novos Sistemas na Arte (1919), que publicou, ilustrada com litografias de sua autoria. De acordo com ALBERA:


[…] em 24 de novembro de 1921, Osip Brik havia comandado a adoção, no seio dos INKhOUK, de sua plataforma produtivista, rejeitando a arte "pura" em prol da produção de objetos utilitários. Ao preconizar a vinculação de toda atividade plástica à produção, essa resolução, adotada depois de meses de debates, vinha santificar a divisão que se havia estabelecido, em 1919 - no momento da exposição Criação não figurativa e suprematismo - entre Malevich, de um lado, e Rodchenko, Popova, Vesnín e Stepanova, entre outros, de outro. É neste contexto que, no início de 1921, V. Kandinski deixa a direção do INKhOUK antes de partir para Berlim, que Gabo, por sua vez, se exila, enquando Malevich vai para Vitebsk e depois para Petrogrado, expressando uma hostilidade crescente para com o construtivismo e o produtivismo (ALBERA, 2002: 167-168).


Enquanto a evolução de Malevich o conduz a uma superação da pintura rumo ao conceito (1918-9, ele abandona a pintura), os outros artistas "sairão" da pintura pela via do material ou da técnica (os assemblages de Tatlin, em seguida a "cultura dos materiais"; a pintura com compasso, segundo a regra de Rodchenko. (ALBERA, 2002: 170).

Malevich criou cenários e figurinos para a peça Mistério Bufão [Misterija-buff] (1918), de V. V. Mayakovsky, encenada no Teatro Meyerhold (Petrogrado). O artista foi professor no ateliê estatal SVOMAS, então dirigido por Marc Chagall (1887-1985), com quem ele disputou e ganhou a direção (Vitebsk, 1921). Chagall estava totalmente descontente com os rumos da política estatal soviética para as artes e se associou a outro artista russo da velha guarda, Wassily Kandinsky (1866-1944), quando ambos voltaram ao Ocidente (c. 1922). Vários outros artistas plásticos russos emigraram nessa mesma época, como Naum Gabo (1890-1977) e seu irmão Anton Pvsner (1886-1962) e Ivan Puni (Jean Pougny, 1888-1936). Todos fugiram quando presenciaram o endurecimento do regime estatal russo voltado para as artes, com a ascensão de Ióssif Stalin (1922-1953). Citando ALBERA (2002):


[…] os artistas Construtivistas positivistas, vários deles originários dos círculos anarquistas tais como Ossip Brik, Vladimir Tatlin, Aleksandr Rodchenko e Kasimir Malevich, tornaram-se os mais novos vanguardistas, separados por uma geração de artistas muito mais idealistas tais como Wassily Kandinsky e os irmãos Naum Gabo e Anton Pvsner; prevalecia, na época, o contexto de idéias de correntes antagônicas (ALBERA, 2002: 170).



As pinturas de Malevich participaram da XVI Exposição Estatal: logo depois o artista organizou o Grupo POSNOVIS - Adeptos da Nova Arte, que logo se transformou no Grupo UNOVIS - Promotores da Nova Arte, orgão governamental que apoiou a criação dos Ateliês Coletivos [SVOMAS], abertos a qualquer cidadão soviético que quisesse participar, sem qualquer tipo de seleção prévia ou exigência de educação artística pregressa. Depois dessa época, Malevich passou a apresentar suas obras sem assinatura, para desta forma inserir-se na arte coletiva e proletária presente no seu país.

Pinturas de Malevich participaram da Exposição Internacional de Arte Soviética, realizada na Galeria Van Diemenn (Berlim, 1922). O artista enviou para a mostra uma de suas obras Cubistas e quatro pinturas Suprematistas. Pinturas de Malevich participaram da mostra estatal Todas as Tendências, organizada pela UNOVIS (Petrogrado, 1923). Malevich ascendeu ao posto de diretor do INChUK - Instituto de Cultura Artística (Leningrado, 1923-1926). As pinturas de Malevich participaram da Bienal de Veneza (1924), onde ele apresentou sua conhecida obra Quadrado Negro, bem como pinturas da fase Suprematista, as ditas, Arquitetônicas Pictóricas, surpreendente evolução das formas suprematistas associadas a cor, mostrando influência do Dinamismo Futurista.
 


Muitos dos textos e artigos de Malevitch foram publicados na revista da Bauhaus, pois a escola alemã reconheceu o ineditismo do Suprematismo. A editora publicou vários livros teóricos do autor russo como Do cubismo ao Suprematismo. Novo Realismo Pictórico [Ot Kubizma k Suprematizmu. Novy Zhivopisny Realizm], Manifesto de K. Malevitch (Petrogrado: 1a ed., 1915; 2a ed., revis. e ampl., 1916; 3a ed., Moscou, 1916; Munique: Bauhaus - Langen Verlag, 1927). Malevich publicou sua Crítica à mostra Bolshaya Dmitrovna, na revista Anarkhia (Moscou, 1917); e os textos Nossos problemas [Nachi Zadachi] e Arte e Proletariado [Iskusstvo i Proletariat], bem como o texto De Cézanne ao Suprematismo [Ot Cezanna do Suprematizma] (Moscou, 1920). Os mesmos textos foram organizados, traduzidos em francês (J. C. Marcade), e publicados como Escritos de Malevitch: de Cézanne ao Suprematismo [Malevitch Écrits, de Cézanne au Suprematisme] (Paris: Le Mirroir Suprematiste, Antologie I - Lumière et la Couleur. Paris: Le Miroir Suprematiste, Antologia II). O artigo À propósito da questão das artes plásticas [Voprossu Izobrabrazitielnovo Iskusstva], Malevich publicou em Vitebsk (1920); e o Álbum Suprematismo: 34 Desenhos (Litografias) [Suprematizma 34 Risunka], bem como o artigo Deus não foi destronado, a Arte, a Fábrica [Bog nie Skinut, Iskusstvo, Tserkov], foram editados por El Lissitsky (Vitebsky, 1920). E foram publicados póstumamente Ensaios sobre arte 1915-1933 [Esays on art 1915-1933] (2 vols. London: Tapp and Whitting, 1971); saíram os seus Escritos [Écrits] (Tradução de Andrei B. Noskov. Paris: Champ Libre, 1975). Na Dinamarca foi publicado Kasimir Malevich. O mundo não-objetivo: escritos inéditos 1922-1925 (Copenhagen: Bogens Forlag, 1976) e, a mesma editora ampliou no mesmo ano a publicação dos escritos de Malevich através do livro K. S. Malevich, o artista, infinito, suprematismo, escritos inéditos 1913-1933 [K.S. Malevich, the artist, infinity, suprematism, unpublished writings 1913-1933] (Copenhagen: Bogens Forlag, 1976). Outros de seus Escritos [Écrits], organizados por Andrei Nakov, foram publicados na França (Paris: Gérard Leibovici, 1986).


A convite da Bauhaus Malevich viajou para a Alemanha (1926), onde terminou um de seus mais importantes livros teóricos: O Mundo Não Objetivo [Die Gegenstandsloose Welt] (Munich: Langen Verlag, 1926). No ano seguinte ocorreu a mostra individual das obras de Malevich, organizada por T. Andersen (Berlim, 1927), quando foi publicado o Catalogue Raisonnée of the Berlim Exibition, 1927, reproduzido anos mais tarde pelo Museu Stedelijk (Amsterdã, 1970), ocasião na qual incluiu a reprodução das obras do artista no acervo desse museu. Malevich foi homenageado com Sala Especial na Grosse Berliner Kunstausstellung (Berlim, 1927). Malevich visitou a Polônia, onde expôs suas obras em mostra individual (Varsóvia, 1927), ocasião em que foi homenageado com banquete por artistas das vanguardas polonesas aos quais Malevich influenciou como Henryk Stazewski, e seu colega russo, Wladislaw Strzeminsky (1893-1958) e esposa russa, Katarzina Kobro. O Suprematismo de Malevich encontrou sua sucessão histórica no movimento do Unismo das vanguardas polonesas do qual participaram H. Stazewski, Henryk Berlewi. Strzeminski foi o artista russo que fundou o Grupo dos Oito [Blok] das vanguardas polonesas (1924-) e, quatro anos mais tarde lançou seu manifesto (Lodz, Polônia, 1928).


Malevich precisou voltar a Rússia, que começava a apresentar os primeiros sinais do severo expurgo estalinista; intencionalmente, o artista deixou a maioria de seus manuscritos e pinturas na Alemanha. Pressionado pela mudança de rumo da arte soviética devido à nova orientação estatal, que decretou o retrocesso da arte das vanguardas soviéticas ao Figurativismo, Malevitch voltou a pintar variação de sua antiga fase na estética Cubo-Futurista, com temas de camponeses e operários, cuja datação o artista colocou anterior, como se fôsse correspondente à da fase inicial de sua obra. Essa atitude de Malevich visava disfarçar aos olhos vigilantes do autoritário estado soviético, o fato de que ele deixou no Ocidente a maior parte de sua obra pictórica.


No início da década de 1930, devido a implantação do verdadeiro terror stalinista, Malevich foi frequentemente convidado para expôr no seu país natal e não tinha como justificar o desaparecimento de inúmeras de suas obras, pinturas importantes de sua primeira fase Cubo-Futurista como O Aviador, Um Inglês em Moscou e Pintura Suprematista, que hoje pertencem ao acervo do Museu Stedlijk (Amsterdã, Holanda).


 
Malevich expôs suas pinturas na importante mostra retrospectiva, realizada na Galeria Tretyakov (Moscou); o artista participou da última mostra dos Pintores de Leningrado (1935), no mesmo ano em que faleceu. Após essa última exposição, as obras de Malevich foram depostas das paredes dos museus russos e eliminadas das mostras estatais de arte. As obras do pintor e teórico da arte russa permaneceram guardadas, longe dos olhos do público e dos pesquisadores, que pediram e jamais obtiveram permissão para vê-las durante mais de 30 anos, até o final da década de 1960.


Após severa enfermidade Malevtch faleceu (15 de maio, 1935). O artista desenhou seu próprio caixão no estilo Suprematista, sua identidade na vida, na arte, na obra e na morte. Malevich foi enterrado no túmulo, marcado por lápide na estética Suprematista (Leningrado). O artista deixou uma unica filha, Una Kazimirovna. As pinturas e obras teóricas que Malevich deixou no exterior, serviram para preservar sua memória do esquecimento: seus arquivos, várias obras além de inúmeros documentos do artista, hoje pertencem ao acervo do Museu Stedelijk (Amsterdã).


Onze fotografias que mostram quase toda a trajetória da vida do artista, sendo uma dele no seu leito de morte, duas de seu enterro, outra mostrando o caixão Suprematista além de outra fotografia da lápide do túmulo de Malevich, no mesmo estilo, bem como várias outras fotografias de Malevich jovem, junto com o grupo UNOVIS; e reunido com Mikhail Matiushin (1861-1934) e Alexey Kruchonykh (1886-1968), os Bardos do Futuro: Poetas Futuristas (1913), se encontram publicadas (SALLES, 2002).


O artista foi homenageado com importantes mostras póstumas de suas obras, nos mais importantes museus internacionais, que publicaram detalhados catálogos, como na exposição individual no MNAM (Paris, 1980); na Malevich 1878-1935, na Galeria Tretiakov, no Museu Estatal Russo (São Petersburgo), itinerante ao Museu Stedelijk (Amsterdã, 1989-1990); da mostra Kasimir Malevich: Coleção, realizada no Museu Estatal Russo (São Petersburgo), itinerante à Fundação Juan March (Valência) e ao IVAM/ Centro Júlio González (Valência, Espanha, 1993). Apenas poucas pinturas de Malevich estiveram em exposição no Brasil na mostra 500 Anos de Arte Russa, que apresentou c. de 350 obras de cinco séculos da arte do país, desde os preciosos ícones antigos além de obras de arte religiosa em materiais nobres como ouro e prata (São Paulo, Oca, Parque Ibirapuera, 2002). As obras das vanguardas russas foram incluídas em modestíssimo módulo, que apresentou a pintura figurativa Alta Sociedade (1908), além do Auto-Retrato, bem como o retrato de seu amigo Nicolay Nicolaievich Punin (1888-1953), ambos pintados por Malevich no estilo medieval, inspirado nos retratos do pintor italiano Piero de La Francesca, que o artista assinou com quadrado negro. Consideradas entre as mais importantes obras da arte internacional as pinturas Suprematistas de Malevich não compareceram à mostra, que, ao invés, preferiu destacar inúmeras obras do Realismo Socialista Soviético (1924-1953), o mesmo que promoveu, sob determinação estatal, a volta ao Figurativismo, que determinou o completo retrocesso da arte das vanguardas russas com severo corte na sua linha de evolução, da qual Malevich foi um dos principais e mais influentes artífices. Malevich, este grande artista conceitual, professor e teórico da arte, tornou-se no exterior verdadeiro ícone da arte russa, depois que encontrou a sua verdadeira identidade artística foi exemplo de simplicidade, austeridade e coerência, que colocaram-no entre os mais importantes artistas das vanguardas internacionais.


As obras cenográficas de Malevich, participaram das seguintes exposições: Mostra da coleção Zeverzeev (Petrogrado, 1915); Paris - Moscou, 1900-1930 (Paris, 1979); Moscou - Paris, 1900-1930 (Moscou, 1981); Arte e Revolução (Tóquio - Osaka, Japão, 1982); A. A. Blok e sua época (Moscou - Berlim, 1983); Arte e Revolução (Budapeste, 1987); K. S. Malevich (Leningrado - Moscou, 1988; Amsterdã, 1989); Arte Russa e Soviética, 1870-1930 (Turim, 1989) e L'Arte della Scenna, Rusia 1900-1930 [Arte Cenográfica, Rússia 1900-1930], realizada com a cooperação do Museu Central Teatral Bachrusín (Moscou), na Galeria Electa (Milão, 1990).


Na mostra Virada Russa: A Vanguarda na Coleção do Museu Estatal Russo de São Petersburgo, no CCBB (Brasília, 7 abril - 7 junho; Rio de Janeiro, 23 junho - 23 agosto; e São Paulo, 15 set.-15 nov., 2009), que publicou catálogo ilustrado, projetou o filme de E. Bulyeva Nenorkorosov, da Quadrat Film, com imagens de época. O filme mostrou a revolução artística promovida pelo grupo UNOVIS (Vitebsk, 1919), e as casas no percurso da Parada Suprematista pintadas com desenhos de formas geométricas. Mostrou imagem do banquete em homenagem ao artista, realizado em Varsóvia (Polônia, 1927). E incluiu depoimento de Evgueny Kovtun sobre Malevich, entre outras imagens desoladoras do Campo de Prisioneiros em Abez, onde Nicolay Punin morreu de frio e desnutrição (1953).


No final da década de 1920, o artista pintou figuras campesinas em larga escala, obras classificadas como pertencentes ao Segundo Ciclo Camponês. Nessa fase negra da vida soviética, as figuras de Malevich não tem rosto, nem braços, as cabeças, são pintadas de negro ou tijolo e permanecem sobre fundo areia, desértico, com azul céu na parte superior. São como figuras fantasmagóricas, de pessoas sem identidade. Algumas dessas obras se encontram reproduzidas no Catálogo Virada Russa (2009: 166-175).

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